Enquanto houver cavalo o São Jorge não anda a pé
Este ditado, nascido nas tradições católicas, traz o famoso santo São Jorge. A imagem dele em cima do cavalo enfrentando um dragão é famosa, especialmente entre os católicos. No dia que escutei este ditado pela primeira vez eu fui logo anotando em algum lugar para não esquecer, afinal, ele tem tudo a ver com a condição humana de dependência e de codependência.
Nesta perspectiva, o famoso Santo se encontra numa posição cômoda de estar montado num cavalo. Tirando a beleza da história espiritual envolvida deste soldado, podemos coloca-lo como o dependente do cavalo. O codependente seria o cavalo.
Quantos “são jorges” dependentes estão montados no nosso lombo? Carregando um “exército” de dependentes, o codependente se sente sempre cansado, sobrecarregado, incompreendido e carregando consigo um sentimento constante que está sendo explorado pelo dependente.
O dependente, ao enfrentar seus “dragões”, transfere para os codependentes o serviço mais pesado. Enquanto isto permanecer, o dependente vai se acomodando nesta situação e o “cavalo” vai ficando cada vez mais chamuscado pelo fogo que sai das bocas dos “dragões”.
Ao contrário do São Jorge que vai à luta com o cavalo, muitos dependentes mandam o cavalo sozinho para enfrentar o Dragão. Quantas vezes o dependente entra em dívidas exorbitantes e depois vem mansinho pedindo dinheiro para os codependentes salvarem sua “pele”. Promessas de que quando eu tiver trabalhando eu te pago são comuns nesta situação e mais uma vez o codependente vai dizer: “Pela última vez eu vou pagar e não faça mais isto”.
Se está situação permanecer, a doença vai evoluir cada vez mais, podendo levar o sujeito dependente e o codependente a muito sofrimento e não raras vezes à morte.
Portanto, deixar de ser o “cavalo” é a única maneira de fazer que o “zão Jorge” assuma a responsabilidade de enfrentar seus “dragões” a pé.
Espero que tenham compreendido a analogia.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico