Um dos quadros de humor que me marcou profundamente na minha adolescência sem sombra de dúvidas foi o do programa “A praça é nossa”. A Maria Santa era um boneco que sempre terminava suas observações de qualquer assunto que estava tendo com o famoso Carlos Alberto com este chavão popular: “LÁ VEM O GOLPE”.

Ao longo da experiência de conviver com um dependente químico, a família codependente passa a ficar calejada de tantos jogos de sedução, de manipulação e mentiras protagonizadas pelo doente adicto.

Na “fissura” de ter a próxima dose, vale tudo. Desprovido de razão e rompendo toda a sua formação ética e moral, o dependente químico é como um rolo compressor passando por cima de todos os codependentes que estão próximos dele.

Depois de tantas promessas e reconciliações, o codependente fica como a famosa personagem Maria Santa: “Lá vem o golpe…”

Estes traumas emocionais ficam impregnados no inconsciente do codependente de tal maneira que dificulta a procura de tratamento. A descrença na recuperação é tamanha que a família muitas vezes não tem motivação para buscar ajuda. O problema disto é que a doença vai evoluindo no seio familiar, podendo a chegar a extremos de dor, de sofrimento e de destruição de todos os envolvidos.

A descrença e o sentimento de “lá vem o golpe”, reverbera até mesmo no tratamento. Chegamos no psicólogo, no psiquiatra, no grupo de apoio ou terapêutico desmotivados e pessimistas em relação ao presente e ao futuro. Voltar a acreditar no dependente químico, na nossa própria recuperação e na rede de apoio é um desafio enorme.

Mas, infelizmente, não temos outra saída a não ser enfrentar o desafio da recuperação. Mudar este chavão “Lá vem o golpe” para “lá vem a esperança” é fundamental. Só assim poderemos ter uma qualidade de vida melhor e um futuro mais promissor na nossa vida e no nosso lar.

Vale a pena tentar!

Cláudio Martins Nogueira -Psicólogo Clínico